Pesquisar este blog

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Crônicas Universitárias (Parte III)

III

Sobre Ágrafos e Apedeutas

 

 


É sabido, já de algum tempo, que em qualquer meio existem entes despreparados e que são circunstancialmente promovidos a postos elevados. Fato que no Brasil, especialmente, itera-se continuamente, inclusive no âmbito acadêmico e científico. Ocasiões em que isto ocorre podem passar despercebidas pela sutileza com que se processam, podem ser ocultas pela gravidade de suas conseqüências (propositalmente tremado), ou podem ser negligenciadas pela regularidade com que sucedem.
  Entretanto, os ágrafos aos quais refiro o título deste artigo não são exatamente objetos incógnitos, sem vocábulo – talvez apenas não mereçam palavra alguma. Os apedeutas aos quais me dirijo não são o tipo comum de ignaro ou inculto, apenas não foram forjados na lida como outrem. São indivíduos que, com pouco ou nenhum esforço, pelo simples fato de executarem um trabalho mecânico e não mental vão sendo elevados em cargos e estima, com auxílio de intercessores que angariarão, com isso, futuros aliados, em número, para aumentar sua produção. Lembrando que, em se tratando de ciências, o termo produção significa uma prospecção exponencial ascendente do número de publicações, conseguida, geralmente, pela técnica de replicação e divisão de artigos – um pecado à ética, profissionalismo e originalidade.
Nesta ânsia por glórias repentinas ou reconhecimento prematuro, muitos profissionais (se é que assim podem ser chamados) incorrem à ilegalidade e forjam resultados. Este equívoco e desvio de conduta ética pode causar-lhe mais do que uma desmoralização pública e perda da ocupação, é possível que haja necessidade de um processo criminal por calúnia ou algo assemelhando (contudo, isso deixo para os advogados que melhor entendem das leis).
No entanto, ainda tratando acerca dos intercessores, parece-me justo o que ocorre na maioria das vezes com seus pupilos impelidos ao sucesso repentino; penso eu que quem favorece os despreparados acaba atirando-os no precipício do fracasso, pois suas asas ainda não eram fortes o bastante para voarem além de seus próprios limites.
Ainda pior que aqueles entes sem preparo, acendendo intelectualmente por impulso de terceiros, são os seres que não valorizam suas origens. Todavia, pensando no provável futuro de tal sujeito, é certo que quem escarra no prato em que come não merece o angu do dia seguinte e acaba alimentando-se com a própria secreção.
Ao invés de esperar por esses favores tão contrários a uma conduta ética e profissional, é bom valorizar os amigos que nos cercam, agradecer e procurar retribuir os favores que voluntariamente são ofertados e sem pretensões e, como diria um amigo, o que é para pertencer a cada ser humano certamente está salvaguardado.


Marcius Andrei Ullmann
Pelotas, 08 de abril de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...