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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Crônicas Universitárias (Parte II)

II

Sobre Centros e Institutos

 

 


Outro fato que agonia minha existência é este novo nome que tomou para si o Instituto de Química e Geociências. É verdade que, desde muito já não havia ali geociências, entretanto, a atual nomenclatura que confedera diversos cursos da estimada Universidade de Pelotas não parece a mim cognata a esses mesmos cursos.
Não tenho pretensão de discutir os anseios financeiros, as condutas administrativas ou qualquer âmbito dessa questão que, se não menos importante, não está para um conhecimento, digamos, não tão aprofundado. Isso deixo para as mentes mais doutas no assunto. Ater-me-ei unicamente a etimologia do novo nome, logo se tratará do tema superficialmente. Porém, é peculiar o novo nome: Centro de Ciências Química, Farmacêuticas e de Alimentos.
Outras instituições de ensino superior prezam por um nome sucinto que represente o coletivo de atividades que cada curso exerce. Mas o novo Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos não consegue suprir os cursos com todas as disciplinas que cada qual requer em seu currículo. Isso significa que se tem preferido inserir os cursos de Farmácia em centros da saúde, pois necessitam de cadeiras comuns a essas organizações acadêmicas, como histologia e anatomia. Já as Ciências de Alimentos me parecem bem alojadas em centros de engenharias pelo seu cunho tecnológico e industrial, ou em centros agrícolas por sua proximidade com o trato dos mantimentos. Já a química, em todas as suas modalidades, deveria estar num centro de ciências exatas por seu caráter mais fundamental, por seu ensino mais voltado à ciência de base e por sua necessidade inerente de conversação com a física e matemática!
Assim, o Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos (que passarei a chamar pela sigla CCQFA, para não delongar demais o artigo) possui um nome bastante extenso e pomposo, porém pouco funcional no âmbito etimológico, uma vez que não consegue resumir em mais de três substantivos a função de cada curso reunido sob sua égide.
Num centro de Ciências Exatas espera-se, e isto é do senso comum, encontrar cursos como a Química, a Física e a Matemática. Estes estarão eternamente ligados por uma aliança etimológica diferente, estarão unidos por símbolos e leis que lhe são comuns; sendo que a ultima moça dessa tríade é o elo entre as outras duas. Juntas, as três caminham a bailar com uma quarta, que não é ciência, todavia objeto de estudo constante: a Natureza.
E, aliás, agora me ocorreu que apesar de anos o meio científico ser monopolizado pelo sexo masculino, são todas mulheres com as quais trabalhamos. Aliás, já disse um cronista que muito aprecio: “... as senhoras são extremos em tudo, tanto que as mais belas coisas deste mundo são também significadas por mulheres...”, mas adverte J. de Alencar, em parágrafo anterior: “... por isso que os maiores flagelos dêste mundo (...) são representados por mulheres.” E como ele, eximo-me da culpa desta comparação, pois concordo quando afirma que os autores disto são os pintores e poetas que criaram os vocábulos com os gêneros como lhes aprouvera. E os gramáticos me perdoem o circunflexo retirado deste fabuloso texto do século XVIII – quando a gramática ainda mantinha seus pormenores, seus tremas e hífens, conforme dita ou ditava a norma culta, mas isso deixo para outro momento...
 Como lhe contava, caro leitor, as senhoras de quem falo, a Física, a Química e a Matemática são filhas de uma terceira, que em termos etimológicos, é a criação mais genial e insana da história da humanidade: a Ciência. Essa, junto com as outras três, tagarelam qual velhas fofoqueiras sobre a quarta mocinha que espreitam de soslaio, a Natureza. Ela, a Natureza, quando enamorada, permite as velhas olhar-lhes um par de belas pernas ao levantar seu vestidinho, ou mostra-lhes a cútis tão alva e sedosa qual bruma só para lhes fazer inveja. No entanto, quando se zanga, fecha-se em si mesma e não dá as caras, impedindo que o melhor dos investigadores retire-lhe qualquer informação, nem energia de ativação, nem entropia, nem qualquer das propriedades físicas ou químicas que lhe é inerente é possível esquadrinhar.
        Quanto a Química, enquanto apartada das Exatas, transmutou-se em Alquimia!


Marcius Andrei Ullmann
Pelotas, 08 de abril de 2011

2 comentários:

  1. Excelente texto, transcreveu a triste realidade conseqÜente de anseios pífios relacionados a status e poder junto a um certo ar de romance ao falar das ciências e suas puras funções.

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  2. Belo texto, Marcius! Só faltou incluir a Filosofia como precursora de toda essa história... Aqui na FURG, precisamente na Escola de Química e Alimentos, a problemática etimológica nem de longe parece com a de vocês. Mesmo a "área de alimentos" estando em outro campus, ela consegue conversar até bem com a Química, mas ainda não é o ideal. Acho que por isso que daqui a um tempo elas dividirão o mesmo espaço. Enfim, parabéns!

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