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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Crônicas Universitárias (Parte I)

I

Sobre Meios de Transporte

 

 


Toda dia, quando olho meu relógio dez minutos adiantado e lá apontam sete e vinte da manhã, tomo o rumo da universidade. Esse trecho de capítulo se repete em minha vida já há pelo menos quatro anos; durante quatro anos tenho passado pelas mesmas ruas, dobrado as mesmas esquinas, chutado as mesmas pedras e cumprimentado um par de mesmas pessoas (que bom que os amigos – novos e velhos – ainda moram por aquelas ruas!) e há quatro anos tenho ido com o mesmo meio de transporte rumo ao campus universitário, localizado às margens de uma pequena cidade que mal conheço intimamente, mas a denominam Capão do Leão.
O que me surpreende é que há quatro anos somos obrigados, eu e mais algumas centenas de acadêmicos, a embarcar em carros lotados onde há estudantes praticamente dependurados às janelas, esforçando-se para não caírem fora do veículo quando este, inevitavelmente, abre a porta para mais um pobre tornar-se membro do conjunto saturado de transportados.
E enquanto há espaço vão colocando pessoas lá dentro – estudantes ou não – sem nenhuma distinção, o povo vai agrupando-se e aglomerando-se qual grumo de leite quando coalha! Há quem compare aquele meio de transporte a uma lata de sardinhas ou uma resma de papel. Mas neste comparativo, penso eu, que a sardinha leva a melhor em se tratando de caracterizar a situação, afinal ela está imersa no óleo, semelhantemente ao estado de suor que os estudantes ficam nos verões desta terra tropical. Eles, os estudantes, transpiram o óleo de seus poros e, às vezes, passam-no além – deixando pouco de si para o companheiro que viaja ao lado.
Poderia ser esta uma forma bonita e prazenteira de demonstrar carinho ao próximo, se não fosse um ato nojento ao qual somos infligidos todo verão por amontoarem-nos naquele ônibus que viaja semelhante ao caminhão boiadeiros: levando bezerros e todo tipo de gado para o abate. Uma sena triste e deprimente que vários estudantes enfrentam todos os dias da semana, salvo feriados e dias sacros, quando fluxo de acadêmicos diminui.
Aos órgãos responsáveis, também não lhes é possível afirmar se aumentaram ou não o contingente de carros. Talvez o tenham feito, porém, que adianta colocarem estes veículos lá pelas sete e quarenta, chegando ao referido campus após as oito horas da manhã? Ao que sei, e todos os estudantes também, o horário marcado para o diálogo intelectual entre mestre e seus aprendizes é exatamente às oito horas da manhã – portanto me parece inconcebível que os carros estejam chegando neste horário ao campus.
Estabelece-se aí uma hierarquia de eventos que denigrem a sociedade contemporânea, principalmente num ponto que deveria ser meta já atingida: um ensino superior modelo. Ocorre que os estudantes usam como indulto o atraso dos carros para justificar o próprio atraso; nisto, os mestres sentem-se a vontade de perdoar-lhes uns quinze minutos, que há muito se tornaram trinta e assim se vai perdoando minutos até não sobrar tempo para mais diálogos intelectuais – desses que se espera nas universidades.
Resta-nos, portanto, sonhar com o dia em que os administradores do serviço de ônibus vão ajustar o horário da maioria dos carros para antes das oito horas da manhã, e em número compatível com o exponencial crescimento de nossa Universidade Federal de Pelotas.
Mas ainda não contente com a atual condição dos estudantes, gostaria de manifestar um apelo ao nosso Restaurante Universitário. Da comida, eu não tenho de que reclamar, apesar de saber que alguns paladares mais apurados não apreciam as iguarias daquele lugar. Todavia, gostaria que as bandejinhas fossem constantemente repostas para que alma alguma fique sem, quando de sua vez em servir-se. Elas, apesar de bambas, garantem um almoço mais higiênico e salutar. Além de auxiliar na limpeza, pois, a julgar pelo volume de transeuntes daquele lugar, penso na dificuldade que deve ser passar um paninho com álcool em cada mesa após alguns efetuarem sua refeição diária.
Não vou comentar aqui sobre a fileira que se aglomera na entrada do restaurante, no horário do meio dia, passa pelo descampado, se estende por uma meia dúzia de braças, dobra no prédio da Matemática e chega próximo aos laboratórios da Química de Alimentos – este caso, obviamente, já deveria ter sido sanado e mesmo com a ampliação do refeitório, perdura... Que fazer?

Marcius Andrei Ullmann
Pelotas, 08 de abril de 2011

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