VI
O Fazer
Científico
Hoje quero apenas instigar a reflexão.
Isso é bom, faz os neurônios do aparelhinho encefálico trabalharem um pouco.
Mas não muito. Não quero me cansar depressa. Vou deixar a fadiga para a velhice
– que deve chegar daqui a mais umas oito décadas.
Mas, de qualquer forma, inicio com uma
provocação. Não é pra “chamar na cincha” como diz o gaúcho. É apenas uma
constatação que noto cada vez mais veraz a cada dia: os centros de educação não
estão cumprindo, satisfatoriamente, seu papel à sociedade, em qualquer nível de
conhecimento. A base é fraca e não prepara o aluno com sólidos saberes gerais
para avançar ao próximo nível. O ensino superior, bem como o mestrado e
doutorado são falhos por não instigarem os estudantes ao raciocínio científico,
treinam-nos para concursos. O aprumo científico, a sede de descobrir a
“sensação de estranhamento”, como alguém já dissera, não é valorizada,
incentivada e explorada em nossos cursos de formação acadêmica!
Os cursos de formação técnica parecem
ter algum sucesso em seu propósito, mas isso deve ser reflexo do meu
desconhecimento da realidade destes cursos.
Quem sou para proferir tais acusações?
A que propósito me digno? Qual minha qualificação para apontar erros do sistema
(falho) educacional? Pasmem. Sou apenas um cronista amador, sem propósito, além
de expressar uma opinião e, quem sabe, apontar uma solução. Quanto a ser
qualificado, não o sou.
Na verdade, não posso ser cronista ou
poeta por falta de formação e não sou cientista por ainda não concluir os
estudos. Sou, então, o fado do estado, a voz que incomoda, a consciência
onisciente dos governos, o lutador sem causas aparentes, sou estudante. Logo,
vivo num limbo sem grande perspectiva de sucesso imediato, afinal não posso
articular muito em campos literários, pois me falta a qualificação; não posso
repreender o sistema ou o método utilizado para ensinar ou fazer ciência, pois
me falta o quinhão.
Mesmo assim, como todo estudante que
se preze, tento fazer-me ouvir através da crônica e da poesia. Tento mostrar
uma opinião, mesmo que avessa ao senso comum, para que se tomem providências e
o mundo se torne um lugar mais justo e sustentável. E sustentabilidade vai além
da comunhão do ser humano com a natureza, é a comunhão do ser humano com ele
próprio, com suas virtudes, com sua ciência e sua consciência. Sustentabilidade
é o termo, em minha opinião, que exprime a tentativa de voltar toda nossa razão
e criatividade em prol de um amanhã melhor para nossos netos, em prol de um
planeta habitável a outras gerações.
Entretanto, não sou qualificado para
falar em como se deve ensinar ou fazer ciência, pois (vejam a contradição) não
sou concursado. Pasmem outra vez: é epistemologicamente correto afirmar que o
indivíduo necessita aprender a pensar, a refletir com método. O sujeito
articulador da sociedade moderna precisa saber racionalizar de forma
científica; criar, a partir de um estado da arte exaurido, algo novo, no limiar
do conhecimento. Todavia, na prática, se não for treinado maquinalmente, não
souber de cor meia dúzia de leis e hipóteses, de regras ou conhecimentos
repetitivamente passados desde o primórdio da civilização informatizada, o
indivíduo não passará no concurso que o habilita para falar e opinar acerca de
ciência e como ela é (mal) sistematizada em nosso país.
Se você não for capaz de marcar
corretamente um par de questões específicas e objetivas sobre determinado
assunto, você não é douto neste assunto e perde o direito de opinar ou
criticá-lo. Se existe uma forma de avaliação mais sensata? Não posso garantir.
Mas a subjetividade, pelo menos, garante a capacidade de exaurir um tema
através de colocações criativas.
O ser humano deve ser posto a prova,
mas a prova deve constatar seu conhecimento sólido e capacidade de inovar.
Enquanto o sistema não consegue enquadrar esse preceito em suas avaliações de
concursos, eles são falhos e dão margem à entrada de pessoal desqualificado no
sistema de ensino, que passa pelas provas objetivas com métodos, digamos, não
tão ortodoxos.
Fazer ciência vai além de seguir um
método. A quebra de paradigmas através de medidas inovadoras já se mostrou eficaz,
a exemplo da relatividade ou mecânica quântica. A criatividade tem papel
fundamental em ciência, ela abre o horizonte para tentar o inimaginado, é o
guia para perscrutar um vale de escombros e retirar de lá o ultimo fragmento
arquitetônico que possua simetria tal que se possa criar, a partir desse
fragmento, um novo mundo de ideias, hipóteses e teorias. Fazer ciência é
consolidar as novas ideias, hipóteses e teorias em algo útil à sociedade ou
aplicável à própria ciência, como aumentar a precisão de medidas, por exemplo.
Contudo, enquanto o mundo novo de
ideias não me vem num lampejo, sigo escrevendo crônicas e poesias, com verso
branco e sem métrica, sem método e nem regras específicas, para me opor ao
sensato, para fazer a diferença num mundo de iguais, para lutar por causas
incompreendidas e para ser um pouco mais estudante e um pouco menos como todo
mundo.
Marcius Andrei Ullmann
15 de abril de 2012
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