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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Crônicas Universitárias (Parte VI)


VI


O Fazer Científico

acadêmico



Hoje quero apenas instigar a reflexão. Isso é bom, faz os neurônios do aparelhinho encefálico trabalharem um pouco. Mas não muito. Não quero me cansar depressa. Vou deixar a fadiga para a velhice – que deve chegar daqui a mais umas oito décadas.
Mas, de qualquer forma, inicio com uma provocação. Não é pra “chamar na cincha” como diz o gaúcho. É apenas uma constatação que noto cada vez mais veraz a cada dia: os centros de educação não estão cumprindo, satisfatoriamente, seu papel à sociedade, em qualquer nível de conhecimento. A base é fraca e não prepara o aluno com sólidos saberes gerais para avançar ao próximo nível. O ensino superior, bem como o mestrado e doutorado são falhos por não instigarem os estudantes ao raciocínio científico, treinam-nos para concursos. O aprumo científico, a sede de descobrir a “sensação de estranhamento”, como alguém já dissera, não é valorizada, incentivada e explorada em nossos cursos de formação acadêmica!
Os cursos de formação técnica parecem ter algum sucesso em seu propósito, mas isso deve ser reflexo do meu desconhecimento da realidade destes cursos.
Quem sou para proferir tais acusações? A que propósito me digno? Qual minha qualificação para apontar erros do sistema (falho) educacional? Pasmem. Sou apenas um cronista amador, sem propósito, além de expressar uma opinião e, quem sabe, apontar uma solução. Quanto a ser qualificado, não o sou.
Na verdade, não posso ser cronista ou poeta por falta de formação e não sou cientista por ainda não concluir os estudos. Sou, então, o fado do estado, a voz que incomoda, a consciência onisciente dos governos, o lutador sem causas aparentes, sou estudante. Logo, vivo num limbo sem grande perspectiva de sucesso imediato, afinal não posso articular muito em campos literários, pois me falta a qualificação; não posso repreender o sistema ou o método utilizado para ensinar ou fazer ciência, pois me falta o quinhão.
Mesmo assim, como todo estudante que se preze, tento fazer-me ouvir através da crônica e da poesia. Tento mostrar uma opinião, mesmo que avessa ao senso comum, para que se tomem providências e o mundo se torne um lugar mais justo e sustentável. E sustentabilidade vai além da comunhão do ser humano com a natureza, é a comunhão do ser humano com ele próprio, com suas virtudes, com sua ciência e sua consciência. Sustentabilidade é o termo, em minha opinião, que exprime a tentativa de voltar toda nossa razão e criatividade em prol de um amanhã melhor para nossos netos, em prol de um planeta habitável a outras gerações.
Entretanto, não sou qualificado para falar em como se deve ensinar ou fazer ciência, pois (vejam a contradição) não sou concursado. Pasmem outra vez: é epistemologicamente correto afirmar que o indivíduo necessita aprender a pensar, a refletir com método. O sujeito articulador da sociedade moderna precisa saber racionalizar de forma científica; criar, a partir de um estado da arte exaurido, algo novo, no limiar do conhecimento. Todavia, na prática, se não for treinado maquinalmente, não souber de cor meia dúzia de leis e hipóteses, de regras ou conhecimentos repetitivamente passados desde o primórdio da civilização informatizada, o indivíduo não passará no concurso que o habilita para falar e opinar acerca de ciência e como ela é (mal) sistematizada em nosso país.
Se você não for capaz de marcar corretamente um par de questões específicas e objetivas sobre determinado assunto, você não é douto neste assunto e perde o direito de opinar ou criticá-lo. Se existe uma forma de avaliação mais sensata? Não posso garantir. Mas a subjetividade, pelo menos, garante a capacidade de exaurir um tema através de colocações criativas.
O ser humano deve ser posto a prova, mas a prova deve constatar seu conhecimento sólido e capacidade de inovar. Enquanto o sistema não consegue enquadrar esse preceito em suas avaliações de concursos, eles são falhos e dão margem à entrada de pessoal desqualificado no sistema de ensino, que passa pelas provas objetivas com métodos, digamos, não tão ortodoxos.
Fazer ciência vai além de seguir um método. A quebra de paradigmas através de medidas inovadoras já se mostrou eficaz, a exemplo da relatividade ou mecânica quântica. A criatividade tem papel fundamental em ciência, ela abre o horizonte para tentar o inimaginado, é o guia para perscrutar um vale de escombros e retirar de lá o ultimo fragmento arquitetônico que possua simetria tal que se possa criar, a partir desse fragmento, um novo mundo de ideias, hipóteses e teorias. Fazer ciência é consolidar as novas ideias, hipóteses e teorias em algo útil à sociedade ou aplicável à própria ciência, como aumentar a precisão de medidas, por exemplo.
Contudo, enquanto o mundo novo de ideias não me vem num lampejo, sigo escrevendo crônicas e poesias, com verso branco e sem métrica, sem método e nem regras específicas, para me opor ao sensato, para fazer a diferença num mundo de iguais, para lutar por causas incompreendidas e para ser um pouco mais estudante e um pouco menos como todo mundo.





Marcius Andrei Ullmann
15 de abril de 2012

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