Pesquisar este blog

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Crônicas Universitárias (Parte V)


V

Triste Verdade

 

perigo




Ouço de inúmeros colegas que, para ser Químico, o indivíduo necessita certa valentia. “Para ser Químico”, dizem eles, “é preciso honrar a camisa, pegar, cheirar e manipular sem luvas materiais carcinogênicos, corrosivos e venenosos”.
       Então, a crônica que ora escrevo é um alerta e um apelo pela maior salubridade nas atividades químicas que são, corriqueiramente, realizadas nas instituições de ensino desse país.
       Parece-me que existe certa negligência, dentro das instituições de ensino e pesquisa, ao que se refere à segurança e salubridade dentro de laboratórios químicos. Isso não é apenas reflexo do que presencio dentro da instituição à qual estou vinculado. Uma breve incursão em outros centros revela a mesma mentalidade negligente – por parte de responsáveis e alunos.
 O fato que me refiro, é tão somente á mentalidade que se instaura nos estudantes de química ao pensarem que são super-humanos, acham que não necessitam de um EPI (Equipamento de Segurança Pessoal) mínimo para atuarem. Parece que o conhecimento químico acerca de substâncias, compostos, seus riscos à saúde torna-os imunes aos malefícios de tais reagentes. Racionalidade essa, que coloca em risco a vida, não apenas do sujeito que está a manipular o composto perigoso, mas do colega ao lado que, na maioria das vezes, não é alertado do que se passa na bancada em frente!
 Também é impressionante como professores e responsáveis negligenciam os riscos dos reagentes em uso. Esquecem, eles, de alertar seus orientandos sobre os riscos específicos de determinados produtos e estes, por julgarem-se imunes à ação venenosa daquilo que manipulam, não demonstram o mínimo cuidado, através do uso de luvas ou máscaras apropriadas.
Dessa forma, parece que a química é conduzida neste país da maneira mais subdesenvolvida possível, sem esmero e cuidado pela vida, utilizando estudantes como peões para o trabalho braçal; contaminando-se, subjugando-se aos mandos de outrem que ganha pago a insalubridade por eles e, na maioria das vezes, nem passa pelos laboratórios para compartilhar do cheiro fétido e cancerígeno que emana de reações descuidadas e sem método.
O mais preocupante é que os reflexos dos venenos aspirados não se dão imediatamente, repercute através dos anos, definha o corpo lentamente e somente tempos após a exposição vingam os malefícios gerados durante a estadia em laboratórios químicos. Surge o câncer, entre outros males degenerativos ou genéticos que se podem revelar. Muitos dos antigos professores que atuaram junto ao instituto em que me encontro hoje morreram ou estão acometidos de terríveis doenças, cujas quais já citei. Nesse estágio não há mais quem culpar, o tempo passou e causas várias podem ser atribuídas ao declínio da saúde. Se a causa foram os anos respirando venenos ou solventes orgânicos, já não se pode precisar e a atividade profissional química continua tendo a mesma sínica poeticidade científica.
Muitos perigos escondem-se em laboratórios químicos1,2,3, e a cautela deve ser uma constante nesses ambientes. Assim como a desistência de manipular compostos aos quais a segurança do laboratório deixa a desejar (coisa que não ocorre na maioria das instituições de ensino).

Fica, aos estudantes de química, o apelo para que não se deixem manipular com desejos espúrios de melhorar o mundo. Quando se é jovem, ainda se alimenta muitas expectativas em relação a “querer salvar a nação”. Entretanto nenhum devaneio de patriotismo ufano deve se entrepor à saúde e profissão. Nenhum prêmio, reconhecimento ou promessa de artigo vale arriscar a própria vida. E o Brasil engatinha muito lentamente rumo ao desenvolvimento, a metodologia adotada deve ser questionada e, aliás, parece que tudo vale em termos de desenvolvimento à custa de mentes jovens e vontade de trabalhar.
Aos pais, fica o alerta para que verifiquem as condições de ensino e trabalho dos estudantes em seus projetos de pesquisa. Fica a chamada ao dever de fiscalizar os ambientes onde seus filhos são expostos aos reagentes nocivos. Cabe a vós satisfação dos órgãos de ensino.
A química, todavia, é o mal necessário da sociedade contemporânea. Entretanto não justifica descuidos banais por parte daqueles que são doutos nesta ciência, afinal, nenhuma faculdade os transforma em super-heróis.






Marcius Andrei Ullmann
Pelotas, 12 de abril de 2012


3 Apostila de segurança, muito util para estudantes: <http://www.crq4.org.br/sms/files/file/mini_seg_lab_2008.pdf>, acesso em 12/04/2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...