IV
15 minutos
Pelotas, 27 de março de
2012, a 15 minutos de começar um novo idílio.
Caro Alvo,
Estou na faculdade. Faltam
15 minutos para o ônibus partir. Dentro desse tempo propus a mim que escreveria
o que me desse na telha, mas não qualquer coisa. A ideia é escrever, em 15
minutos, algo diferente, inteligente e inovador.
Pode ser algo cômico ou
dramático, todavia que seja algo que marque este ínfimo espaço de tempo de
minha existência. Aliás, este é o ponto, este é o tema, o assunto.
Gastamos tanto tempo em
nossas vidas não fazendo absolutamente nada que, ao depararmo-nos com desafio
tamanho (escrever algo inédito em 15 minutos), processamos nada ou muito pouco.
Nenhum lampejo, insight, ideia ou inspiração. Simplesmente o Reino de Pandora e
nada mais em minha mente.
E acredito que não seja
somente eu que passe por tais dificuldades; parece geral a inércia intelectual
que se instaura mediante o impossível, mediante o desafio. Somos todos, todos
humanamente brecados quando deparamo-nos com desafio tamanho (a vida). Nem que
seja apenas por um instante, aquele instante, o instante necessário para parar,
refletir, medir e formular. No fim, é por em prática o plano meticulosamente
traçado segundos antes, num lampejo, insight, ideia ou momento de inspiração.
Interessante como é
possível desenvolver esse ou outro qualquer raciocínio em poucos segundos de
trabalho cerebral. Máquina encefálica, milhas de neurônios, interfaces
sinápticas, tudo o mais interligado, funcionando como instrumento biológico,
cuja força quimio-motriz é singular em sua performance simbiótica ou talvez,
caiba melhor, silogística. Tudo, nesse aparato essencial – o cérebro, tudo atua
concomitantemente, tudo é tão ou quase tão instantâneo quanto à velocidade de
um fóton luciferino. Entretanto, minha ideia não se processa em 15 minutos. Fato: a natureza é um sofisma.
Ou ela é o próprio sofisma
ou brinca conosco, com nossa humilde mente, e nós, para contento de nosso
próprio âmago humano, fingimos crer que suas leis são reais. Ou deveria dizer:
verdadeiras?
A essa questão, caro Alvo,
não lhe poderei esclarecê-la aqui, numa humilde nota, pois os argumentos ainda
são falhos, não sou douto (apenas finjo) em artes filosóficas e falta-me o
empenho.
Porém, meu caro Alvo,
viste como pode rumar por horizontes diversos e infindos uma simples conversa
que se iniciara como desafio? E confesso-te, não consegui. Não. Falhei no
intento de promulgar a ideia inovadora em 15 minutos e acabo o artigo agora à
noite, após sete horas de amadurecimento, entremeado com outras atividades que
não vem ao caso.
Mas sempre foste tu meu
confidente, Alvo, mesmo agora que já não és feito de celulose, que tomaste
forma digital e nome norte-americano. Impingiram-te este pingente ao qual
chamam “cursor” e as letras lhe grafo não com pena ou esferográfica, contudo
com o carimbar de teclas que hão de deixar o texto mais legível ao editor.
Pois é, querido Alvo, vou
tomar um chá quentinho e deixar-te quieto para que, mais tarde, possamos
conversar melhor e talvez, com tua lívida e serena tez, possas ajudar-me a
criar um mundo fantástico, de contos misteriosos ou poesias cultuando as coisas
e a vida, que é presente divino.
Até mais, caro Alvo.
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