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terça-feira, 10 de abril de 2012

Crônicas Universitárias (Parte IV)


IV

15 minutos






Pelotas, 27 de março de 2012, a 15 minutos de começar um novo idílio.

Caro Alvo,

Estou na faculdade. Faltam 15 minutos para o ônibus partir. Dentro desse tempo propus a mim que escreveria o que me desse na telha, mas não qualquer coisa. A ideia é escrever, em 15 minutos, algo diferente, inteligente e inovador.
Pode ser algo cômico ou dramático, todavia que seja algo que marque este ínfimo espaço de tempo de minha existência. Aliás, este é o ponto, este é o tema, o assunto.
Gastamos tanto tempo em nossas vidas não fazendo absolutamente nada que, ao depararmo-nos com desafio tamanho (escrever algo inédito em 15 minutos), processamos nada ou muito pouco. Nenhum lampejo, insight, ideia ou inspiração. Simplesmente o Reino de Pandora e nada mais em minha mente.
E acredito que não seja somente eu que passe por tais dificuldades; parece geral a inércia intelectual que se instaura mediante o impossível, mediante o desafio. Somos todos, todos humanamente brecados quando deparamo-nos com desafio tamanho (a vida). Nem que seja apenas por um instante, aquele instante, o instante necessário para parar, refletir, medir e formular. No fim, é por em prática o plano meticulosamente traçado segundos antes, num lampejo, insight, ideia ou momento de inspiração.
Interessante como é possível desenvolver esse ou outro qualquer raciocínio em poucos segundos de trabalho cerebral. Máquina encefálica, milhas de neurônios, interfaces sinápticas, tudo o mais interligado, funcionando como instrumento biológico, cuja força quimio-motriz é singular em sua performance simbiótica ou talvez, caiba melhor, silogística. Tudo, nesse aparato essencial – o cérebro, tudo atua concomitantemente, tudo é tão ou quase tão instantâneo quanto à velocidade de um fóton luciferino. Entretanto, minha ideia não se processa em 15 minutos. Fato: a natureza é um sofisma.
Ou ela é o próprio sofisma ou brinca conosco, com nossa humilde mente, e nós, para contento de nosso próprio âmago humano, fingimos crer que suas leis são reais. Ou deveria dizer: verdadeiras?
A essa questão, caro Alvo, não lhe poderei esclarecê-la aqui, numa humilde nota, pois os argumentos ainda são falhos, não sou douto (apenas finjo) em artes filosóficas e falta-me o empenho.
Porém, meu caro Alvo, viste como pode rumar por horizontes diversos e infindos uma simples conversa que se iniciara como desafio? E confesso-te, não consegui. Não. Falhei no intento de promulgar a ideia inovadora em 15 minutos e acabo o artigo agora à noite, após sete horas de amadurecimento, entremeado com outras atividades que não vem ao caso.
Mas sempre foste tu meu confidente, Alvo, mesmo agora que já não és feito de celulose, que tomaste forma digital e nome norte-americano. Impingiram-te este pingente ao qual chamam “cursor” e as letras lhe grafo não com pena ou esferográfica, contudo com o carimbar de teclas que hão de deixar o texto mais legível ao editor.
Pois é, querido Alvo, vou tomar um chá quentinho e deixar-te quieto para que, mais tarde, possamos conversar melhor e talvez, com tua lívida e serena tez, possas ajudar-me a criar um mundo fantástico, de contos misteriosos ou poesias cultuando as coisas e a vida, que é presente divino.


Até mais, caro Alvo.

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